quinta-feira, 31 de agosto de 2017

UNIVERSO PUNK E INDÍGENA SE ENCONTRAM EM FESTIVAL QUE PROMOVE RESISTÊNCIA CULTURAL

JOANA ZANOTTO

Os caminhos para a Terra sem Males, percorridos pelos Guaranis, de acordo com sua cosmovisão, parecem ainda mais árduos neste momento em que os direitos históricos dos povos originários brasileiros retrocedem em nossa legislação. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), das 1.116 Terras Indígenas em território nacional, apenas 398 estão registradas, ou seja, com o processo demarcatório inteiramente regularizado. 



As barreiras para a garantia da tradicionalidade das terras tendem a aumentar com o chamado Marco Temporal, em discussão no Supremo Tribunal Federal. A medida restringe o direito constitucional de demarcação de territórios tradicionais de povos indígenas e quilombolas ao comprovante de ocupação das áreas reivindicadas na data da promulgação da Constituição Federal. Mais aterradoras são as demonstrações de fúria contra as comunidades ancestrais do país descritas no Relatório de Violência contra Indígenas publicado pelo CIMI em 2015. Naquele ano, 54 indígenas foram assassinados no país. 




O FESTIVAL



Neste cenário, o Festival Netuno Punk Rock 40+ se destaca na contramão da política indigenista oficial. O evento agendado para o 6 de setembro, no Teatro Ademir Rosa, vai promover o encontro do grupo musical Grupo Nhe'ẽ Ambá SC (Mbyá Guarani), com as bandas de rock Eutha, Insalubre, Insurgentes e Machetes, que apresentará um set exclusivo com os Ramones. O festival é uma realização da Produtora Cultural Netuno Rock em parceria com o Conselho Estadual dos Povos Indígenas de SC e a Fundação Catarinense de Cultura. O valor arrecadado com a venda de ingressos será revertido para comunidades tradicionais do estado. 


O idealizador da produtora cultural Netuno Rock, Paulo Eduardo Antunes, conta que ela foi criada em 2010 com o objetivo de fomentar a cena cultural independente da Grande Florianópolis e promover ações em benefício dos povos indígenas de Santa Catarina. Entre 2010 e 2016, nos festivais realizados, foram arrecadados alimentos, vestimentas e brinquedos para serem destinados integralmente aos povos originários. Paulo diz saber que a ação equivale a “uma gota no oceano”: - O festival não resolve nada na questão indígena, ninguém se ilude com isso. Ele serve mais para tentar sensibilizar outras pessoas para outras linhas de pensamento, de cultura e de arte. Os direitos indígenas no Brasil, acordados internacionalmente, estão sendo gravemente feridos. Temos que nos unir às comunidades e desenvolver outros projetos para além dos festivais. 




SERVIÇO 
O quê: Festival Netuno Punk Rock 40+
Quando: 6 de setembro Horário: 20:30 
Onde: Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura (CIC)

Ingresso a R$20 nas bilheterias do TAC, CIC e Pedro Ivo

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