sábado, 17 de dezembro de 2016

CÉLULA ENTREVISTA PAULO EDUARDO ANTUNES
(PRODUTOR CULTURAL DA NETUNO ROCK)


Célula: Olá Paulo, em primeiro lugar, parabéns pela iniciativa! Bom, você pode nos contar um pouco sobre a trajetória dos festivais? E como aconteceu o envolvimento com os povos indígenas?

Paulo: Iniciei essa saga de festivais beneficentes em 2010. Após a terceira edição procurei uma entidade que represente a causa indígena e cheguei ao CEPIn (Conselho dos Povos Indígenas de SC), aí formalizamos uma parceria com a Netuno Rock e fizemos a entrega formal pela primeira vez dos donativos arrecadados nesta 3a edição, que foram entregues nas mãos do Cacique Teófilo (Aldeia Tekoá Itaty - Morro dos Cavalos).

Paulo Eduardo (Netuno Rock) com Marcelo Kuaray, Cacique da Aldeia Tava'i", Conselheiro do CEPIn e Coordenador do Grupo de Cantos e Danças Mbyá Guarani Nhe'ẽ Ambá, que se apresentará no Festival Netuno Rock Noel em 18/12/2016.

Célula: E nas outras edições, mais comunidades foram procuradas?

Paulo: Na sequencia aconteceu uma plenária do CEPIn e ficou decidido que todas as doações vindouras dos festivais seriam repartidas irmãmente entre as 3 etnias existentes no estado de SC, que são a Guarani, Kaingang e Xokleng. Na edição de agosto e em outro festival que organizei em outubro, os donativos já foram distribuídos em partes iguais para cada uma dessas etnias.

Crianças indígenas da Aldeia Guarani Tekoá Itaty

Célula: É possível atender todos? Ou falta muito ainda?

Paulo: Infelizmente, não conseguimos atender todos. O conselho de cada etnia decide quais famílias, as mais socialmente fragilizadas, que receberão os donativos e assim aconteceu e também acontecerá nesta segunda edição de Natal e quinta da saga Netuno Rock.

Célula: Qual a situação que as aldeias se encontram?

Paulo: Hoje em dia as aldeias que tem terras cultiváveis, não possuem ferramentas, capacitação técnica e sementes crioulas para manterem uma cultura de subsistência, o que agrava mais ainda a problemática da fome, a situação está bem séria. Fora a questão da demarcação das terras indígenas, garantidas pela Carta Magna de 1988, que está sendo postergada por décadas!

Entrega dos donativos da edição de agosto de 2016 na Aldeia Guarani do Morro da Palha 

Célula: Em tempos de turbulência política, como que isso afeta as comunidades indígenas?

Paulo: A situação não só dos povos indígenas de SC, mas como do Brasil inteiro está muito caótica. Com a entrada desse novo governo, a maioria dos benefícios sociais destinados anteriormente aos indígenas, para combater a miséria e ao menos colocar um prato de comida na mesa deles foram minimizados ou até suprimidos, sem dó e nem piedade e assim o problema da FOME hoje em dia (fora as questões de invasões de terras indígenas, chacinas promovidas por latifundiários, não valorização da cultura indígena, choques culturais, discriminação étnica, etc...) é talvez o maior problema que as nações indígenas estão sofrendo, inclusive com registros de óbitos em muitas aldeias pelo Brasil, por falta do mínimo para a sua sobrevivência, uma situação muito séria e triste.

Cacique Teófilo assinando o recibo dos donativos da edição de março de 2016. 

Célula: Como que você encara os resultados que o festival leva, de fato, a essas pessoas?

Paulo: A gente não se ilude que uma mera sequencia de festivais mitigará os problemas indígenas. Apenas uma gota no oceano, das suas infinitas demandas, uma modesta contribuição, mas que vem oportunizando o envolvimento de mais pessoas na causa, que vem acontecendo em larga escala e também a valorização da cultura indígena, abrindo espaço para exposição da arte nativa e das apresentações musicais, fora a valiosa interação sociocultural entre indígenas e rockeiros.

Indígenas da Aldeia Tekoá Itaty recebendo os donativos da edição de março de 2016, com a Sra. Íris (secretária executiva do CEPIn), Ricardo (Insalubre) e Paulo (Netuno Rock & Insurgentes).

Entrevista realizada em 09/12/2016 por Kainan Fernandes, produtor da Célula Showcase.

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