UNIVERSO PUNK E INDÍGENA SE ENCONTRAM EM FESTIVAL QUE PROMOVE
RESISTÊNCIA CULTURAL
JOANA ZANOTTO
Os caminhos para a Terra sem Males,
percorridos pelos Guaranis, de acordo com sua cosmovisão, parecem ainda mais
árduos neste momento em que os direitos históricos dos povos originários
brasileiros retrocedem em nossa legislação. Segundo dados do Conselho
Indigenista Missionário (CIMI), das 1.116 Terras Indígenas em território
nacional, apenas 398 estão registradas, ou seja, com o processo demarcatório
inteiramente regularizado.
As barreiras para a garantia da tradicionalidade das
terras tendem a aumentar com o chamado Marco Temporal, em discussão no Supremo
Tribunal Federal. A medida restringe o direito constitucional de demarcação de
territórios tradicionais de povos indígenas e quilombolas ao comprovante de
ocupação das áreas reivindicadas na data da promulgação da Constituição
Federal. Mais aterradoras são as demonstrações de fúria contra as comunidades
ancestrais do país descritas no Relatório de Violência contra Indígenas
publicado pelo CIMI em 2015. Naquele ano, 54 indígenas foram assassinados no país.
O FESTIVAL
Neste cenário, o Festival Netuno Punk
Rock 40+ se destaca na contramão da política indigenista oficial. O evento agendado
para o 6 de setembro, no Teatro Ademir Rosa, vai promover o encontro do grupo
musical Grupo Nhe'ẽ Ambá SC (Mbyá Guarani), com as bandas de rock Eutha, Insalubre,
Insurgentes e Machetes, que apresentará um set exclusivo com os Ramones. O
festival é uma realização da Produtora Cultural Netuno Rock em parceria com o
Conselho Estadual dos Povos Indígenas de SC e a Fundação Catarinense de
Cultura. O valor arrecadado com a venda de ingressos será revertido para
comunidades tradicionais do estado.
O idealizador da produtora cultural Netuno Rock, Paulo
Eduardo Antunes, conta que ela foi criada em 2010 com o objetivo de fomentar a
cena cultural independente da Grande Florianópolis e promover ações em benefício
dos povos indígenas de Santa Catarina. Entre 2010 e 2016, nos festivais
realizados, foram arrecadados alimentos, vestimentas e brinquedos para serem
destinados integralmente aos povos originários. Paulo diz saber que a ação
equivale a “uma gota no oceano”: - O festival não resolve nada na questão
indígena, ninguém se ilude com isso. Ele serve mais para tentar sensibilizar
outras pessoas para outras linhas de pensamento, de cultura e de arte. Os
direitos indígenas no Brasil, acordados internacionalmente, estão sendo
gravemente feridos. Temos que nos unir às comunidades e desenvolver outros
projetos para além dos festivais.
SERVIÇO
O quê: Festival Netuno Punk Rock 40+
Quando: 6 de setembro Horário: 20:30
Onde: Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura (CIC)
Ingresso a R$20 nas bilheterias do TAC, CIC e Pedro Ivo